Do meio à sociedade em rede: Uma análise das ideias de McLuhan, Hall e Castells
- Carlos Maia
- 15 de out. de 2024
- 5 min de leitura
Marshall McLuhan, Stuart Hall e Manuel Castells são três dos principais teóricos que discutiram o impacto das tecnologias e das mídias de comunicação sobre a sociedade.Marshall McLuhan destaca como os meios moldam a percepção; Stuart Hall foca na construção de significados e na recepção ativa do público; Manuel Castells analisa a transformação social pela internet e as redes digitais
Por Carlos Maia
Marshall McLuhanl e Manuel Castells
Marshall McLuhan, em sua teoria mais conhecida, afirma que "o meio é a mensagem". Ele acreditava que o meio de comunicação utilizado era mais importante do que o conteúdo que ele transmitia.
Moldando estruturas
Para McLuhan, as tecnologias de comunicação, como a televisão, não apenas transmitiam informações, mas transformavam a maneira como as pessoas pensavam, percebiam e organizavam suas sociedades.
McLuhan defendia que os diferentes meios de comunicação moldam nossas estruturas cognitivas, sociais e culturais. A transição da imprensa para a era eletrônica, por exemplo, alterou profundamente as dinâmicas sociais e temporais.
Nova forma de interação social
Na visão de McLuhan, a chegada da televisão e, posteriormente, da internet, trouxe uma nova forma de interação social, onde o tempo e o espaço foram comprimidos e reorganizados em uma "aldeia global".
Enquanto McLuhan via os meios como elementos centrais de transformação, Stuart Hall introduziu uma visão mais dialética, ao defender que os receptores das mensagens midiáticas têm um papel ativo na interpretação dos significados.
Para Hall, as mensagens não são interpretadas da mesma forma por todas as pessoas. Ele desenvolveu o modelo de codificação e decodificação para explicar como os significados são negociados pela audiência.
Stuart Hal
Nesse modelo, os produtores de mídia codificam as mensagens com um significado implícito, mas os receptores decodificam essas mensagens de acordo com seu contexto cultural e social, podendo negociar ou rejeitar o sentido proposto.
Disputa por significados
Hall defendia que o processo de comunicação é, portanto, uma disputa por significados. A mídia é um campo de batalha cultural, onde diferentes ideologias e interpretações concorrem pelo controle sobre o que é significado dominante.
Um exemplo disso seria a forma como uma notícia pode ser interpretada de maneiras completamente diferentes por pessoas com diferentes contextos sociais, culturais e econômicos, levando a interpretações variadas de um mesmo evento.
Era digital
Enquanto McLuhan focava nos efeitos dos meios de comunicação sobre as estruturas sociais e Hall enfatizava a agência das audiências na negociação de significados, Manuel Castells leva a discussão para a era digital.
Castells argumenta que estamos vivendo em uma "sociedade em rede", onde as redes digitais desempenham um papel central na reorganização da economia, cultura e poder. Para ele, as redes são a nova estrutura social dominante.
Na "sociedade em rede", o poder está nas mãos daqueles que controlam a comunicação digital e as informações que circulam nessas redes. Castells destaca a importância das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) nesse processo.
Para Castells, o advento da internet e das redes digitais mudou radicalmente o modo como as sociedades funcionam, criando novas formas de comunicação, organização e distribuição de poder, diferentes das hierarquias tradicionais.
Quem controla a rede contra a informação
Ele desenvolve o conceito de "espaço de fluxos", que descreve uma nova organização espacial e temporal, onde a comunicação digital instantânea comprime o tempo e o espaço e cria novos tipos de conectividade global.
Um ponto essencial da obra de Castells é sua análise sobre como o poder é distribuído nas redes digitais. Para ele, quem controla a rede controla a informação e, portanto, exerce influência direta sobre a sociedade.
Contudo, Castells também aponta que as redes digitais podem ser ferramentas de resistência. Movimentos sociais e de contestação, como a Primavera Árabe, utilizam essas redes para desafiar estruturas de poder estabelecidas.
Aqui, vemos uma convergência entre as ideias de McLuhan, Hall e Castells. Todos os três reconhecem o papel central das tecnologias de comunicação nas dinâmicas sociais, culturais e políticas, embora a ênfase seja diferente.
Sociedade sendo moldada
McLuhan e Castells concordam que as tecnologias de comunicação moldam e reorganizam a sociedade, mas Castells situa essa análise no contexto das redes digitais, onde a conectividade global redefine o poder e a resistência.
Por outro lado, Stuart Hall oferece uma crítica importante ao determinismo tecnológico de McLuhan, ao sugerir que os significados não são impostos pelas mídias, mas negociados e reinterpretados pelos públicos, dependendo de seus contextos.
Ainda assim, Castells reconhece a importância da agência das audiências, ao mostrar como as redes digitais podem ser usadas como ferramentas de resistência e mobilização, desafiando as estruturas tradicionais de poder.
Para ilustrar essas ideias na prática, podemos olhar para exemplos contemporâneos de como as redes sociais e a internet têm sido usadas tanto para promover quanto para contestar narrativas dominantes.
Voz a grupos marginalizados
A ascensão das plataformas digitais, como Facebook, Twitter e YouTube, transformou radicalmente a comunicação pública, dando voz a grupos marginalizados e permitindo a formação de movimentos sociais descentralizados.
Com a democratização da informação pelas redes sociais, grupos nazi-fascistas apareceram
Ao mesmo tempo, essas plataformas são controladas por grandes corporações e governos que utilizam algoritmos para moldar o que as pessoas veem e consomem, criando novas formas de controle sobre a informação.
Esse ambiente digital reflete a dualidade identificada por Castells: as redes são simultaneamente meios de controle e de resistência, dependendo de quem as utiliza e de como elas são mobilizadas.
Voltando à ideia central de McLuhan, podemos ver que "o meio é a mensagem" se aplica ainda mais fortemente na era digital, onde a própria existência das redes e algoritmos redefine o modo como pensamos e interagimos.
Ao mesmo tempo, a teoria de Hall nos ajuda a entender como diferentes públicos interpretam as mensagens digitais, negociando seus significados com base em suas experiências, identidades e contextos culturais.
Essas diferentes perspectivas teóricas nos ajudam a compreender como as mídias e tecnologias de comunicação continuam a moldar as sociedades contemporâneas, sendo ferramentas de poder, resistência e transformação.
Teorias conectadas
Em última análise, McLuhan, Hall e Castells nos oferecem uma lente multifacetada para entender o papel central da comunicação no mundo de hoje. Suas ideias são fundamentais para analisar o impacto das tecnologias digitais.
Ao conectar as teorias desses três pensadores, podemos ver uma linha contínua de análise que vai desde o impacto estrutural dos meios (McLuhan), passando pelo papel ativo da audiência (Hall), até a complexa rede de poder digital (Castells).
Essas abordagens complementares nos fornecem um quadro teórico robusto para examinar o impacto das mídias e das tecnologias de comunicação no século XXI, tanto em termos de controle quanto de resistência social.
Carlos Maia / Comunicação UFPR
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